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José Saramago escandalizou meio mundo com a sua crítica à Bíblia. Dizer que ela é um “manual de maus costumes” é de facto atrevimento que parece revelar mais alguma coisa do que ignorância.
Vamos, por isso, deixar hoje aqui o testemunho de um outro escritor de uma geração mais nova e que é considerado pela crítica especializada uma das grandes promessas da literatura do século XXI. Trata-se de Nathan Englander, nascido em 1970, em Long Island, nos Estados Unidos e que faz do questionamento sobre a identidade religiosa um de seus temas dilectos, o que lhe garante comparações com escritores como Philip Roth e Isaac Bashevis Singer.
Valemo-nos para isso da entrevista que lhe fez António Monda, no seu livro “Acreditas? Conversas sobre Deus e a religião”, do qual reproduzimos o seguinte:«Ainda lês os textos sagrados?
Estás a brincar? Claro que leio. E considero-os a obra mais bela que já foi escrita: quem quer que tenha escrito a Bíblia é Deus.
Também conheces o Novo Testamento?
Não tanto como o Antigo, mas fico sempre emocionado com o incipit do Evangelho de São João: “No princípio havia o Verbo; o Ver-bo estava em Deus e o Verbo era Deus”.
Dizes isso como escritor ou como homem de fé?
Por vezes, interrogo-me sobre se haverá alguma diferença. Mas se te referes àquilo que permaneceu dentro de mim do rapaz educado nas Escrituras, digo-te que, quando fecho a Bíblia, beijo-a e tenho cuidado com a posição em que a coloco na minha estante.
O que é que te fascina particularmente na Bíblia?
A sua complexidade, e a capacidade de falar na linguagem da eternidade».
Agora o meu leitor é que é o juiz. Como se pode explicar tanto ódio de José Saramago a uma obra considerada por quase toda a gente como um tesouro da humanidade? Não será ressentimento recalcado por o seu comunismo ateu não ter conseguido vingar na sociedade e ter deixado atrás de si um rasto de perseguição e morte de muitos milhões de pessoas?
6 comentários:
Saramago já mostrou o que é, quando este à frente de O DIÁRIO DE NOTÍCIAS.
Graça Franco, e não só, falou disso mesmo em artigo de opinião.
Comecei a minha carreira de jornalista no Diário de Notícias.
«Tinham passado ainda poucos anos da breve passagem de Saramago pela direcção do Jornal. Não deixara saudades.
Ficou a imagem de perseguidor feroz dos adversários numa passagem tristemente marcada pelo saneamento político de dezenas de jornalistas.
Viviam-se tempos difíceis de enorme tensão política e luta ideológica. Mas, então como agora, houve quem soubesse escolher o respeito pela liberdade de expressão dos “inimigos” e os que não resistiram à tentação de tentar, por todos os meios, e em nome de novas verdades absolutas, prolongar os tempos da censura.
A defesa da liberdade de expressão e crítica aberta não foi então a marca de água do escritor.
Não serve o argumento para coarctar a sua. Tem Saramago direito a propagar o seu jacobinismo e dizer o que pensa. Até de declarar guerra a Deus e às religiões embora o respeito pela liberdade dos outros aconselhasse, aqui como em tudo, a dispensa do insulto fácil.
Os que acreditam em Deus esperam que as dúvidas de Saramago sobre a Sua existência se dissipem, um dia, num encontro a dois. Onde, para espanto do escritor, em vez do juiz cruel que a sua imaginação produziu e a razão rejeita se encontrará com O Pai infinitamente bom. Capaz de compreender toda a arrogância e perdoar o insulto.
Aos crentes, incapazes da mesma atitude, resta: não comprar.
Graça Franco»
"Dizes isso como escritor ou como homem de fé?
Por vezes, interrogo-me sobre se haverá alguma diferença."
A nossa vida não pode ser compartimentada. Se somos pessoas de fé só podemos agir como tal em todas as situações.
Ainda bem que existem escritores, e muitas outras pessoas com um certo estatuto social, que não têm pejo de se afirmar de fé!
Grandes lições que muitos não querem ver.
Abraços
Na verdade, o ateísmo de Saramago parece ser fruto de ressentimentos de infância recalcados, de uma revolta mal digerida para com a educação religiosa tradicional que recebeu. Foi o mesmo que aconteceu com Sartre.
Mas o mais interessante disto é que Saramago se tornou um grande publicitário da Bíblia! Vejam este delicioso excerto de um artigo de João Pedro Martins:
«A má pessoa imaginária [Deus] que Saramago persegue e teima em negar preparou uma vingança ao escritor e usou o velho Nobel para lançar o debate, não sobre Caim mas sobre a Bíblia, e trazer novos leitores para o livro escrito por um Deus que o escritor diz ser vingativo.
Ao inaugurar a sua nova piscina literária baptizando-a de Caim, Saramago anunciou aos nadadores da literatura um oceano infinito chamado Bíblia. E ninguém vai querer um patinho de borracha ou uma bóia numa piscina com cloro quando pode pescar e mergulhar num oceano de águas profundas.»
Por isso, «obrigado, Saramago»!
Este artigo foi publicado no DN. Vejam o texto completo em:
http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/jornalismocidadao.aspx?content_id=1400559
Que tem a Bíblia de especial que não pode ser criticada?
É um livro sagrado?!
Até parece...
Olá Ver para Crer:
Para lá dos méritos literários de Saramago (que aprecio mas não idolatro)vem a propósito deste seu cabeçalho Ateísmo Ressabiado e desenvolvimento na forma de entrevista "a um dos maiores escritores do século XXI"que duvido que alguém conheça cá...(estranhando misturas com o genial Philip Roth,essa é a verdade)trazer à luz do seu blog este texto
sintético e definitivo sobre a natureza mesmo das "nossas"queridas religiões
http://dn.sapo.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=1404512
e coteje-se com aquele outro texto
acima sugerido pelo crente Orlando G.Henriques:aqui quer J.Pedro Martins congratular-se com mais do mesmo-MAIS POVÃO A LER O LIVRO!!!,bom-,ali Pilar del Río,que se fartou de navegar no "LIVRO",diz-nos franca e singelamente PENSA POR TI,o mais é despiciendo!!!,e diria eu,maxime AQUELE E QUEJANDOS "LIVROS"...
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