Gozar a vida

Já aqui referi o assunto. Em Londres e outras cidades, ateístas estão a usar autocarros com frases como esta: "Deus provavelmente não existe. Deixe de se preocupar e goze a vida".
Quanto à primeira parte da mensagem, deixo-a de lado, por agora. Vou fixar-me, só, no "goze a vida".
O apelo a gozar a vida está bem dentro do que pensa a maioria das pessoas. Mas será que as beneficia? E sobretudo à sociedade?!
Todos sabemos que a maioria da nossa gente – sobretudo os mais novos – anda à procura do que agrada e dá prazer e põe de lado o que pode provocar algum tipo de desconforto. Coisas como solidariedade para com os carenciados, amor desinteressado e até o trabalho podem admirar-se nos outros mas queremo-las longe de nós. O prazer é o objectivo supremo da vida.
Com facilidade se ouve criticar a política que permite que haja quase mil milhões de pessoas a passar fome no mundo ou que permite a miséria de tantas pessoas e, por outro lado, o esbanjamento e riqueza de uns tantos. Não será essa referida ganância e a respectiva pobreza provocada por políticas que visam apenas o próprio bem estar egoísta dos que têm o poder?
O apelo a "gozar a vida" num tempo de crise económica para tanta gente que não sabe como arranjar dinheiro para dar de comer à família ou pagar a renda ou prestação da casa não será "gozar" com os pobres e deserdados do mundo?!
Como é diferente a mensagem daqueles que não se ficam no seu conforto mas vão em ajuda dos que precisam! Ou daquelas instituições e comunidades que fazem apelo e organizam a solidariedade para com os carenciados! Ou como aqueles padres que são capazes de dizer nas suas igrejas que se houver alguém nas suas comunidades a passar fome que venha ter com eles, pois hão-de arranjar maneira de lhes valer!
Aqui está a diferença entre a moral destes referidos ateus e a dos homens de boa vontade que até podem nem ser muito religiosos.