quarta-feira, 25 de março de 2009

Quem tem razão?



O texto abaixo foi publicado no blog do Fábio Zanini, da Folha. Por razões óbvias, permiti-me reproduzí-lo inteiramente aqui.

Vejamos uma história de sucesso no continente Africano, só para variar, no combate à Aids em Uganda.
É UM SUCESSO INQUESTIONÁVEL.
Há 15 anos, cerca de 30% da população tinham o vírus; hoje, são 6,5%.
Enquanto outros países perdiam tempo fingindo que nada acontecia, e até negando que HIV cause Aids (como na África do Sul, onde a taxa é de mais de 20%), os ugandenses agiam para conter a doença. Falar sobre o assunto, assumir o problema e discutir candidamente foi o primeiro passo. Mas teve mais.
Uganda trata a Aids de uma maneira que nós nunca faríamos. Uma maneira inusitada, para dizer o mínimo. E assumidamente moralista.

Um exemplo do que acontece por aqui: imagine que é um oficial do governo e precisa de delinear uma estratégia para reduzir a incidência de Aids junto a camionistas. Nos vários países, este é um grupo delicado: estão sempre longe de casa, cruzam fronteiras, são rodeados por prostitutas todo o tempo. São potencialmente um factor de disseminação da doença. E muitos chegam em casa e podem contaminar as suas esposas.
A meu ver, a lógica mandaria que se propagandeasse o uso de camisinhas entre caminionistas. No entanto, veja como é o cartaz do governo de Uganda: “um motorista responsável importa-se com sua família; é fiel a sua mulher”. O foco não é convencê-lo a protege-se quando dormir com prostitutas, mas tentar convencê-lo, antes de tudo, a não ter relações sexuais. Parece ingênuo, mas o governo acha que funciona. E talvez funcione mesmo.
Nos outros países, o ênfase das campanhas contra Aids é no sexo seguro: use camisinha! No Uganda, a promoção dos preservativos é apenas a perna mais fraca de um tripé que conta também com a promoção de abstinência e da fidelidade.
O slogan do governo é ABC:

A é a inicial de abstinência,

B é de “be faithful”, ou seja fiel,

C é para condom, ou camisinha.
Não surpreende, então, que o governo coloque tanta ênfase nas letras A e B.

A abstinência é direcionada para os jovens, principalmente menores de 25 anos, idade média em que eles se casam, incentivando-os a manterem-se virgens até o altar.

O B é dedicado aos casais, pedindo que sejam fiéis.

Só em último caso, se a pessoa não conseguir se abster, vem o C: pelo menos use camisinha.


Percebeu a diferença?

O enfoque tradicional nos vários países, é centrar fogo na camisinha. Em Uganda, camisinha é um último caso, quase o recurso dos pecadores.Hoje conversei com representantes de duas ONGs, esperando ouvir algumas críticas à política do ABC. Nada. Aprovam 100%. Há um consenso nacional em torno do tema. Sobra para organizações estrangeiras descerem o pau, dizendo que é irreal esperar que um jovem de 20 anos se mantenha virgem.

Mas os números estão aí, desafiando o que diz a lógica e a convicção de muitos (como eu).

São um tapa na cara dos cépticos.


Fonte: aqui

5 comentários:

Caros Amigos disse...

Esta gente só pensa em sexo. São uns devassos e depois querem que o Papa os siga.
Se eles seguissem o Papa, isso é que era uma ideia!

Anónimo disse...

Todos sabem que o preservativo é uma panaceia.O Papa até tem razão. Só com o preservativo não vamos longe. É preciso educar as pessoas para um uso humano do sexo. Mas ser fiel às leis de Deus é difícil e mais vale acusar os outros da existência da SIDA.

Ver para crer disse...

Deixo aqui este artigo de Maria José Nogueira Pinto, no Diário de Notícias de 26 de Março de 2009:

"O Papa é um chefe religioso. Quando fala para os milhões de católicos que, por todo o mundo, acorrem a escutar a sua palavra, estes não esperam que fale como um funcionário da Organização Mundial de Saúde ou como um qualquer ministro. Nem tão-pouco como um demagogo ou um profeta. Sucessor de Pedro, que foi mandatado por Cristo para fazer a Sua Igreja, o Papa quando vai itinerante pelo mundo, evangeliza na mais pura tradição do que foi e é essa Igreja. O que significa o testemunho da verdade, do caminho e da luz, sem qualquer embuste fácil de correcção política. Foi o que Cristo fez, irritando os poderes políticos, económicos e sociais do seu tempo, que o julgaram, açoitaram e crucificaram.
Este incidente tão mediatizado revelou dois interessantes aspectos da forma mentis deste tempo em que vivemos. A primeira tem a ver com o comportamento dos que não têm fé, e por isso não acreditam em nada do que estou aqui a escrever. Dúvida que me surge: se não acreditam porque é que se incomodam tanto com o que o Papa diz? Será porque, como alguns vaticinam, as religiões poderão substituir, no século XXI, as ideologias? E isso é, só por si, ameaçador? E quem deu cabo das ideologias? Foram as religiões? Não me parece. A segunda tem a ver com a religião à la carte, adoptada pelos que acreditam mas não concordam, e querem uma religião à medida das concessões que foram fazendo ao longo da sua vida e, de acordo com cada circunstância concreta, uma ementa de interpretações onde caiba tudo e eles próprios.
Em todos os discursos proferidos pelo Papa na sua visita aos Camarões, não há qualquer referência ao preservativo. Na resposta a um jornalista sobre esta questão, Bento XVI responde nos seguintes termos "(…) não se pode solucionar este flagelo apenas com a distribuição de profilácticos: pelo contrário, existe o risco de aumentar o problema." Quem lide de perto com a sida sabe que é mesmo assim (veja-se o caso português em que apesar da distribuição gratuita de preservativos e da troca de seringas não melhora os seus indicadores). O combate a este flagelo passa hoje, graças ao progresso científico, por outras coisas, mais complexas, mais difíceis e mais caras e às quais os doentes africanos não têm acesso (nem muitos portugueses…). Tão-pouco o Papa foi aos Camarões recomendar a abstinência sexual como solução para a sida. Exortou sim à humanização das relações interpessoais em geral, e da sexualidade em particular.
Para além disto - um ínfimo episódio no contexto da digressão africana - o Papa falou de tudo o que realmente interessa: a corrupção, o desperdício de recursos, o tribalismo, a lei do mais forte, a particular situação das mulheres, a fome, a doença, o imperativo da paz. Os milhões de africanos que caminharam ao encontro do Papa fizeram-no com o espírito de confiança que a Igreja cimentou nesses países onde está, não apenas na liturgia dos templos, mas no terreno, junto das populações, cuidando, tratando, acolhendo, provendo, como pode, à satisfação das suas necessidades mais básicas. Neste Continente que tantos dão de barato como "perdido", a Igreja desenvolve diariamente mil e uma acções junto daqueles que a geografia privou de toda a dignidade.
Pode-se não acreditar, não ter fé, acreditar e discordar mas não se pode inventar uma outra religião mais conforme aos ditames intelectuais que hoje nos regem, com outra lógica, com outros fundamento. A Igreja que foi a África foi de visita aos seus filhos mais abandonados. Não foi cobrar impostos nem pedir votos, nem fazer campanha mediática. Foi levar a esperança e dizer a verdade. Por isso mesmo é que os africanos a receberam de coração aberto."

Marlene Maravilha disse...

Estou com Uganda agora e sempre em relacao a este artigo.
Gostei demais.
As pessoas precisam se concientizar do que é fidelidade, amor, família e precisam aprender a gostar de si próprias.
Um grande beijo e o desejo que tenhas um feliz final de semana!

Anónimo disse...

É normal que a igreja tenha muita reserva sobre as campanhas do preservativo. Elas parecem dizer às pessoas: usem o preservativo e de resto fodam o que quiserem.
São campanhas sem moral e atentatórias dos bons costumes.