segunda-feira, 30 de março de 2009

A propósito dos preservativos…

Deixo aqui o texto do Bispo de Viseu sobre o assunto em epígrafe, por achar que ele contém a posição da Igreja Católica sobre o assunto:

«Causou algum escândalo a afirmação do Papa, várias vezes repetida como tese da Igreja, de que o preservativo não é a solução para o combate ao vírus da Sida. Que queriam que ele dissesse? Afirmando que sim, banalizava o valor, o sentido e a vivência da sexualidade, enquanto dimensão do ser humano, centro, símbolo e expressão das relações profundas da pessoa, a viver no amor, na fidelidade (confiança recíproca), na estabilidade e na responsabilidade.
O Papa, quando fala da Sida ou de outros aspectos da vida humana, não pode fazer doutrina para situações individuais e casos concretos. Neste caso, para relações entre uma pessoa infectada e outra que pode ser afectada com a doença. Nestes casos, quando a pessoa infectada não prescinde das relações e induz o(a) parceiro(a) (conhecedor ou não da doença) à relação, há obrigação moral de se prevenir e de não provocar a doença na outra pessoa. Aqui, o preservativo não somente é aconselhável como poderá ser eticamente obrigatório.
E não tenhamos medo ou reserva mental ou hipocrisia de admitir esta doutrina! Não usamos tantos “auxiliares” artificiais para promover a vida e defender a saúde? As intervenções cirúrgicas, os fármacos, as próteses e tantas outras técnicas ao serviço da pessoa, em situação de doença, não são formas de ‘preservar’, defender e promover a saúde?... Então, porquê esta afirmação do Papa a veicular uma doutrina e, precisamente, na viagem para África – o continente mais atingido por esta doença? Como doutrina, como ideal, como princípio de dignidade, defesa e promoção da vida humana, o Papa não pode dizer outra coisa. Como, também, deverá ser a deontologia do médico, praticando a medicina para promover e defender a vida em todas as circunstâncias possíveis, ainda que, para defender valores em conflito, possa pôr-se perante situações inevitáveis de morte…
Ainda bem que o Papa não cede a tentações de simpatia, facilitismo ou conveniência!... Esta é parte da sua cruz pascal (também da Igreja, dos Bispos, dos Sacerdotes, dos Cristãos) – ter valores e causas a defender para a realização integral da pessoa humana e gastar a vida por eles, ao serviço da dignidade e sentido da pessoa e da sua plenitude. Será falta de hábito e de cultura da exigência e da honestidade, numa sociedade tão relativa, tão mínima e tão pouca ambiciosa e coerente na defesa das pessoas e dos seus valores? Será tão fácil o escândalo farisaico de quem não sabe interpretar as diferenças entre valores e princípios gerais, por um lado e situações concretas e pessoais, por outro? Sim... Está aqui a grande diferença: a chamada “lei da gradualidade” explica que, existindo a lei geral a afirmar, a exigir e a promover valores, eles não esmagam a pessoa concreta, em situações muito individuais… Eles dão a mão com paciência, tolerância e compreensão para que a pessoa “situada” compreenda, aceite e queira caminhar, ao ritmo de um ideal libertador, defendido por uma lei orientadora. Acredita-se sempre no ideal que a pessoa é chamada a atingir, porque a dignifica e valoriza, ainda que demore algum tempo ou não chegue nunca a atingi-lo.Este é o papel da formação personalizada e libertadora, dada individualmente ou em pequeno grupo, sempre como desafio à conversão e à vida digna e feliz. O legislador, como referência do ideal a amar e a seguir, não pode deixar de estar acima e ser exigente, apelando, com a sabedoria de mestre e, sobretudo, com o amor e a proximidade de pai, a um grande ideal, percorrendo um caminho juntos, indo até onde for possível. Sobretudo, nunca abandonando a pessoa.
A terminar: como são parciais e intencionais as apreciações da doutrina da Igreja veiculada pelo Papa para o Continente Africano e não só!...
O preservativo teria sido o tema mais importante – quase único? Mesmo a respeito do tema da Sida, foi a única coisa que o Papa disse?
E outros temas, como a pobreza, a fome, a justiça social (…) e os apelos a que os países ricos cumpram os seus compromissos a favor do desenvolvimento?... E a denúncia de que África não pode ser vista como o “reino do dinheiro”, explorando a sua riqueza e as suas matérias-primas, deixando este Continente entregue à sua insuficiência económica, industrial e financeiramente?... E os desafios, feitos aos jovens, convidando-os à coragem da aventura e a que não tenham medo das decisões definitivas, sabendo que a vida está dentro deles?... E os desafios entreabertos e a aprofundar, quando denomina a África como o “Continente da Esperança”?... E a coragem que o Papa manifesta, ao falar e abordar tantos temas incómodos?... E como entender a coragem e a capacidade de um homem, com quase 82 anos, que enfrenta situações desta natureza para ir falar, no lugar próprio, dos temas e das causas que defende e nos quais acredita, ainda que saiba que são incómodos para tantos?...
Ao serviço de quem estão tantos meios de comunicação social, tantos opinionmakers e tantos poderes instituídos, que mais parecem donos ou correias de transmissão de interesses económicos e políticos que dos direitos, liberdades e dignidade da pessoa humana, a começar pelas mais pobres e mais indefesas?...
Alguns perderam mesmo uma grande oportunidade de trazer para a reflexão dos “grandes” os grandes problemas dos “pequenos” que – infelizmente – continuam a não ter voz nem vez no actual (des)concerto das nações.
Ilídio, bispo de Viseu»

3 comentários:

Ver para crer disse...

Vale a pena ver o artigo no Washinton Post, referido no Expresso.
Deixo aqui o link e o artigo:
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/03/27/AR2009032702825.html?referrer=emailarticle

«The Pope may be right

By Edward C. Green
Sunday, March 29, 2009; Page A15

When Pope Benedict XVI commented this month that condom distribution isn't helping, and may be worsening, the spread of HIV/AIDS in Africa, he set off a firestorm of protest. Most non-Catholic commentary has been highly critical of the pope. A cartoon in the Philadelphia Inquirer, reprinted in The Post, showed the pope somewhat ghoulishly praising a throng of sick and dying Africans: "Blessed are the sick, for they have not used condoms."

Yet, in truth, current empirical evidence supports him.

We liberals who work in the fields of global HIV/AIDS and family planning take terrible professional risks if we side with the pope on a divisive topic such as this. The condom has become a symbol of freedom and -- along with contraception -- female emancipation, so those who question condom orthodoxy are accused of being against these causes. My comments are only about the question of condoms working to stem the spread of AIDS in Africa's generalized epidemics -- nowhere else.

In 2003, Norman Hearst and Sanny Chen of the University of California conducted a condom effectiveness study for the United Nations' AIDS program and found no evidence of condoms working as a primary HIV-prevention measure in Africa. UNAIDS quietly disowned the study. (The authors eventually managed to publish their findings in the quarterly Studies in Family Planning.) Since then, major articles in other peer-reviewed journals such as the Lancet, Science and BMJ have confirmed that condoms have not worked as a primary intervention in the population-wide epidemics of Africa. In a 2008 article in Science called "Reassessing HIV Prevention" 10 AIDS experts concluded that "consistent condom use has not reached a sufficiently high level, even after many years of widespread and often aggressive promotion, to produce a measurable slowing of new infections in the generalized epidemics of Sub-Saharan Africa."

Let me quickly add that condom promotion has worked in countries such as Thailand and Cambodia, where most HIV is transmitted through commercial sex and where it has been possible to enforce a 100 percent condom use policy in brothels (but not outside of them). In theory, condom promotions ought to work everywhere. And intuitively, some condom use ought to be better than no use. But that's not what the research in Africa shows.

Why not?

One reason is "risk compensation." That is, when people think they're made safe by using condoms at least some of the time, they actually engage in riskier sex.

Another factor is that people seldom use condoms in steady relationships because doing so would imply a lack of trust. (And if condom use rates go up, it's possible we are seeing an increase of casual or commercial sex.) However, it's those ongoing relationships that drive Africa's worst epidemics. In these, most HIV infections are found in general populations, not in high-risk groups such as sex workers, gay men or persons who inject drugs. And in significant proportions of African populations, people have two or more regular sex partners who overlap in time. In Botswana, which has one of the world's highest HIV rates, 43 percent of men and 17 percent of women surveyed had two or more regular sex partners in the previous year.

These ongoing multiple concurrent sex partnerships resemble a giant, invisible web of relationships through which HIV/AIDS spreads. A study in Malawi showed that even though the average number of sexual partners was only slightly over two, fully two-thirds of this population was interconnected through such networks of overlapping, ongoing relationships.

So what has worked in Africa? Strategies that break up these multiple and concurrent sexual networks -- or, in plain language, faithful mutual monogamy or at least reduction in numbers of partners, especially concurrent ones. "Closed" or faithful polygamy can work as well.

In Uganda's early, largely home-grown AIDS program, which began in 1986, the focus was on "Sticking to One Partner" or "Zero Grazing" (which meant remaining faithful within a polygamous marriage) and "Loving Faithfully." These simple messages worked. More recently, the two countries with the highest HIV infection rates, Swaziland and Botswana, have both launched campaigns that discourage people from having multiple and concurrent sexual partners.

Don't misunderstand me; I am not anti-condom. All people should have full access to condoms, and condoms should always be a backup strategy for those who will not or cannot remain in a mutually faithful relationship. This was a key point in a 2004 "consensus statement" published and endorsed by some 150 global AIDS experts, including representatives the United Nations, World Health Organization and World Bank. These experts also affirmed that for sexually active adults, the first priority should be to promote mutual fidelity. Moreover, liberals and conservatives agree that condoms cannot address challenges that remain critical in Africa such as cross-generational sex, gender inequality and an end to domestic violence, rape and sexual coercion.

Surely it's time to start providing more evidence-based AIDS prevention in Africa.

The writer is a senior research scientist at the Harvard School of Public Health.»

Joaquim Costa disse...

Afinal foi isto que sempre ouvi. O preservativo não pode ser instrumento de perversão mas também é melhor usá-lo que infectar outras pessoas.

joaquim disse...

É uma vergonha o que os pseudo jornalistas fazem com as declarações de membros da Igreja.
Ainda hoje vem no Correio da Manhã, que o Bispo de Viseu, por causa da violência doméstica "apoia" o divórcio!
Ora o Bispo fala em separação o que está de acordo com o Código de Direito Canónico, no Cân 1153!!!

A falsidade e o subterfúgio imperam neste país, e sobretudo na comunicação social em tudo o que diga respeito à Igreja Católica.

Abraço amigo em Cristo