segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Sessenta e três mil


Nos últimos três anos e meio, foram feitos em Portugal mais de 63.000 abortos. Quer isto dizer que, desde que foi aprovada a liberalização da ‘interrupção voluntária da gravidez’, por dia, nos nossos hospitais públicos, foram mortos cerca de 50 seres humanos.
Por estranho que pareça, desta forma de guerra não declarada aos seres humanos nascentes não se ocupam os meios de comunicação, embora sobejem provas nas estatísticas da DGS, da Direcção-Geral de Saúde. Lembramo-nos certamente das frequentes manchetes, logo amplificadas pelas emissoras de rádio e televisão, dos textos comprometidos, dos casos convenientes e das repetidas reportagens que foram construindo, durante anos, uma narrativa inquestionável sobre o aborto clandestino. A essa verdade única e oficial, não raro reduzida a uma retórica da ‘humilhação’, bastavam deduções, ‘estudos’, extrapolações, para garantir que havia um ‘problema de saúde pública’, um ‘flagelo’ que urgia resolver. Não importava que a realidade fosse notícia, mas que a notícia se tornasse realidade.
Surpreendentemente, o aborto, uma vez legalizado, como que desapareceu; há 63 mil abortos contabilizados que não são notícia. E poder-se-iam acrescentar muitos outros motivos de admiração: que ninguém questione os custos directos e indirectos do aborto – mais de 100 milhões de euros; que não suscite qualquer reparo dar a Segurança Social igual subsídio a quem tem filhos e a quem aborta; que mais de metade dos 20 mil abortos a pedido realizados em 2009 tenham ocorrido na região mais rica de Portugal; que um dos principais activistas da liberalização do aborto pontifique no Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida; que esse novel presidente se mostre, agora, preocupado com as largas centenas de mulheres que fizeram do aborto método de planeamento familiar (340 abortaram duas vezes em 2009).
O mal cria habituação. Quatro anos depois não podemos continuar a ignorar, a ignorar que há desastres maiores e mais graves do que a dívida soberana. Hoje, 11 de Fevereiro, dia de luto, é também dia de luta.
Belmiro Fernandes Pereira

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