quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A Obra do Gaiato


Ao celebrar os 70 anos da fundação da Obra da Rua ou Obra do Gaiato, vale a pena recordar o seu fundador e o bem que fez a tantos miúdos sem família.
Depois de acabar o curso de Teologia no Seminário de Coimbra, o Padre Américo foi nomeado perfeito e professor do Seminário. Mas cansado e com um esgotamento cerebral, foi-lhe confiada a Obra da Sopa dos Pobres e aí encontrou a sua verdadeira vocação – o mundo dos sem-família. Pouco depois inicia as Colónias de Férias do Garoto da Baixa em Coimbra, estágio embrionário do que viria a ser posteriormente a Casa do Gaiato. O garoto vadio e sem o amor duma família passa a ser a sua principal preocupação. O «Quim Mau» que tantos perseguem e poucos compreendem passa a ser o emblema da sua Obra – a Casa do Gaiato.
E a propósito da necessidade que os miúdos sentem sobretudo de uma mãe que os acarinhe, deixo aqui um texto publicado há tempos pelo Padre João, antigo responsável da Casa do Gaiato de Miranda do Corvo.
«Numa das Casas do Gaiato por onde passei, era frequente observar as crianças com os bolsos das calças a "abarrotar"... berlindes, carritos, chaves, rebuçados... entre outras coisas: um "mini-mercado" ambulante! Quando, por "dois dedos de conversa", os interpelava, a minha pergunta pelo "recheio" era simplesmente uma espécie de password para aceder ao mundo mais vasto da sua intimidade, do seu coração.
Recordo-me que, num desses encontros inesquecíveis, uma das crianças quis mostrar o seu "baú"... Fê-lo de forma tão singela - como só as crianças ainda não molestadas pela desconfiança dos adultos – são capazes. O bolso foi-se esvaziando até que a certa altura dei-me conta de alguma atrapalhação... Havia algo escondido que parecia muito precioso e Intimo e que ali guardava: "Alguma moeda ou a chave da gaiola dos seus passaritos" – pensei comigo. Apercebendo-se mais da minha curiosidade, mete novamente a mão ao bolso e tira uma foto: "Trago aqui a minha mãe!..."
Apoderou-se de mim um sentimento contraditório; compaixão e revolta: "o ninho aos passarinhos!..." A criança à família!... E, se esta não for capaz nem competente mude-se de ninho, com cuidado, que pode enjeitar! Trate-se de arranjar quem substitua de forma inequivocamente maternal e paternal. Uma criança não é uma "coisa" mas um sujeito de direitos.»

6 comentários:

Anónimo disse...

Obra louvável, a todos os títulos. Obra que só o Amor sabe inspirar. Que tão vilipendiada tem sido, para calvário dos que a ela se têm entregue.
(uma curiosidade: ela nascer um dia depois de mim...)
FF

Em contra-corrente disse...

Até os chineses dizem:
"Só se atiram pedras às árvores que têm frutos".

Joaquim Costa disse...

Conheço homens que foram educados nesta obra. E vê-se que se tornaram alguém na vida.

Sílvia Pontes disse...

O padre Américo é uma glória da Igreja Portuguesa.
E o exemplo que devemos aproveitar todas as vocações, mesmo as mais tardias.

Catia Silva disse...

Belo exemplo este de amor dedicado aos mais pobres. Que muitos o sigam!

Anónimo disse...

O padre Manuel, é um mete nojo que para ai anda. Maltrata os mais novos, e eu sei duque falo!