
Por estranho que pareça, desta forma de guerra não declarada aos seres humanos nascentes não se ocupam os meios de comunicação, embora sobejem provas nas estatísticas da DGS, da Direcção-Geral de Saúde. Lembramo-nos certamente das frequentes manchetes, logo amplificadas pelas emissoras de rádio e televisão, dos textos comprometidos, dos casos convenientes e das repetidas reportagens que foram construindo, durante anos, uma narrativa inquestionável sobre o aborto clandestino. A essa verdade única e oficial, não raro reduzida a uma retórica da ‘humilhação’, bastavam deduções, ‘estudos’, extrapolações, para garantir que havia um ‘problema de saúde pública’, um ‘flagelo’ que urgia resolver. Não importava que a realidade fosse notícia, mas que a notícia se tornasse realidade.
Surpreendentemente, o aborto, uma vez legalizado, como que desapareceu; há 63 mil abortos contabilizados que não são notícia. E poder-se-iam acrescentar muitos outros motivos de admiração: que ninguém questione os custos directos e indirectos do aborto – mais de 100 milhões de euros; que não suscite qualquer reparo dar a Segurança Social igual subsídio a quem tem filhos e a quem aborta; que mais de metade dos 20 mil abortos a pedido realizados em 2009 tenham ocorrido na região mais rica de Portugal; que um dos principais activistas da liberalização do aborto pontifique no Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida; que esse novel presidente se mostre, agora, preocupado com as largas centenas de mulheres que fizeram do aborto método de planeamento familiar (340 abortaram duas vezes em 2009).
O mal cria habituação. Quatro anos depois não podemos continuar a ignorar, a ignorar que há desastres maiores e mais graves do que a dívida soberana. Hoje, 11 de Fevereiro, dia de luto, é também dia de luta.
Belmiro Fernandes Pereira
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