terça-feira, 26 de julho de 2011

Os nossos idosos




Muitos idosos portugueses são maltratados. Isto é o que se depreende de um Estudo da Organização Mundial de Saúde.
Dos 53 países europeus analisados pelo relatório, Portugal surge entre os cinco piores no tratamento aos mais velhos, juntamente com a Sérvia, Áustria, Israel e República da Macedónia.
Por dia, quatro milhões de idosos são vítimas de humilhações físicas e psicológicas na Europa. A directora da OMS para a Europa, Zsuzsanna Jakab, considera a situação "muito grave". No caso específico de Portugal, este é considerado um "problema sério".
"As pessoas não têm vergonha de discriminar os idosos, ao contrário do que acontece com a discriminação por razões étnicas ou de género", considerou uma especialista na matéria, Sibila Marques, que em Maio publicou o ensaio "Discriminação na Terceira Idade", da Fundação Francisco Manuel dos Santos. "São os próprios idosos a acreditar na sua falta de valor", disse a investigadora do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, aquando do lançamento da obra.
Segundo o Relatório de Prevenção contra os Maus Tratos a Idosos, da Organização Mundial de Saúde, o país tem 39,4 por cento de idosos vítimas de abusos. Os dados mostram ainda que 32,9 por cento são vítimas de abusos psicológicos, 16,5 por cento de extorsão, 12,8 por cento de violação dos seus direitos, 9,9 por cento de negligência, 3,6 por cento de abusos sexuais e 2,8 por cento de abusos físicos.
É uma vergonha o que se passa. Ainda por cima num país dito cristão.
O grande escritor romano Virgílio relata na Eneida um episódio digno de reflexão. Aquando da destruição de Tróia, Anquises, pai de Eneias, tinha já uma idade avançada e mal podia andar. Por esse motivo pediu ao filho que se fosse embora da cidade mas que o deixasse ali, pois não queria ser estorvo para a salvação do filho. E Eneias respondeu-lhe que nunca mais poderia viver em paz com a sua consciência se abandonasse o pai. E não esteve com mais: carregou aos ombros o seu pai e pegou pela mão o seu filho Iulo, até que os três ficaram a salvo.
Maltratar uma criança ou um idoso – e sobretudo um pai ou uma mãe – é uma desonra que a todos nos deveria envergonhar. E a sociedade tem de recriminar tais atitudes.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O amor duma menina indiana


É um caso de amor extremo e, por isso, merece realce. Embora ninguém goste que seus filhos o imitem, ele choca-nos no sentido positivo. Não é tirado dum romance ou duma novela. Ele aconteceu mesmo e comoveu todos os que dele tiveram conhecimento.
A menina Mumpy Sarkar, de 12 anos, fazia parte de uma família muito pobre de Jhorpara, na região de Bengala - Índia. Mridul, seu pai, precisava de um transplante de córneas, pois estava ficando cego. Ao mesmo tempo, a família sofria com a doença de Monojit, irmão de Mumpy, que precisava de um transplante de rins para não morrer. Como a família não tinha condições de pagar pelas cirurgias e achar doadores compatíveis é sempre um desafio, o desespero tomou conta de todos.
Mumpy acreditou que tinha a solução para todos os problemas. Ela iria matar-se e seus órgãos seriam doados para seus entes queridos. Porém, o bilhete suicida em que explicou seus motivos e o desejo de ajudar o pai e o irmão só foi encontrado após ela ser cremada, como é costume na Índia. Somente então Monica, irmã mais velha de Mumpy, contou que sabia do plano da irmã mais nova e disse que ela tentou inclusive convencê-la a fazer o mesmo, caso algo desse errado. Mas Mónica não aceitou.
Mumpy bebeu uma grande quantidade de pesticida sozinha e morreu mesmo depois de ter sido levada a um hospital da região. ”Demorámos muito para entender os sentimentos de uma criança muito sensível”, lamenta Mridul. Sua esposa, Rita, teve de ser internada, após entrar em estado de choque com a notícia.
Ao saber do ocorrido, políticos locais se comprometeram a ajudar a família oferecendo auxílio médico. E assim a morte da menina não foi em vão.
Deixo aqui este caso, não para que alguém copie este exemplo – o suicídio é sempre de condenar! – mas para que meditemos no exemplo de amor extremo que esta criança nos deixou.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Uma Mãe com cinquenta filhos




A história de Flordelis é real e até já mereceu ser contada no filme “Basta Uma Palavra para Mudar”.
Exemplo de determinação e coragem, Flordelis enfrentou tudo e todos para criar cinquenta crianças. A maioria delas tinha um histórico desanimador: foram vítimas de abusos físicos ou sexuais, tiveram pais alcoólicos ou drogados, e passaram parte da vida nas ruas.
Criada numa favela, Flordelis acostumou-se a ver pessoas a morrer assassinadas e envolvidas no tráfico. “Eu tive sorte de ter uma mãe presente, mas o que mais me doía era ver amigos sem pai e/ou mãe a viver nas ruas, dependendo de alguém para conseguir alguma coisa para comer, fugindo de tiros e confrontos. Isso sempre me doeu no coração. A minha vocação tem a ver com isso por causa da minha história. Vi isso acontecer de perto” conta.
Seu trabalho começou com o projecto “Evangelismo da madrugada”, que consistia basicamente em sair de casa todas as sexta-feiras à meia-noite, deambulando de favela em favela do Rio de Janeiro, tentando resgatar jovens envolvidos no tráfico de drogas. Flordelis ficou famosa pelo seu trabalho de recuperação, até que as próprias mães, quando não tinham condições de criar os filhos, passaram a procurá-la pedindo ajuda.
A primeira adopção aconteceu após uma visita à Central do Brasil. Lá ela encontrou uma mãe que havia tido bebé há apenas 15 dias e que confessou ter jogado a criança no lixo. Flordelis resgatou a menina e, dias depois, um grupo de crianças foi até sua casa, procurando a segurança e a estabilidade de um lar. As portas estavam abertas e foi assim que a família de Flordelis começou a crescer.
Além da óbvia complexidade em se ter 50 filhos dentro de casa, Flordelis também enfrenta alguns desafios para administrar e manter o seu serviço. “Para sustentar toda a família é muito difícil. Contamos com a ajuda de moradores da nossa comunidade. Herbert José de Sousa, conhecido como Betinho, activista dos direitos humanos nos ajuda há muito tempo também. Junto disso tem o dinheiro das vendas dos meus CD’s que sairam pela MK. Outra coisa que ajuda muito é que o Instituto da Criança é quem paga o aluguer na nossa casa” relata.
Flordelis é também cantora e pastora numa igreja. E, apesar da dificuldade, procura ser uma mãe presente. E conta que se preocupa sobretudo com as filhas adolescentes. “É uma idade complicada e cheia de questões, então sempre separo um tempo para estar conversando com elas sobre tudo. Mas uma coisa que sempre deixo claro para os meus filhos é que só conseguiremos vencer se continuarmos juntos e se tiver o apoio deles, que é o essencial” diz.
Apesar das grandes dificuldades, a “mãezona”, como lhe chamam, jamais abriu mão de nenhum dos seus filhos e seu exemplo de fé e determinação tem influenciado muitas mulheres pelo mundo. “