quinta-feira, 29 de março de 2012

Deus encontrou-o



Há cerca de doze anos atrás, eu estava de pé, dentro da classe, esperando enquanto meus alunos entravam para nossa primeira aula de Teologia da Fé. Aquele foi o primeiro dia em que vi Tommy. Tanto meus olhos quanto a minha mente faiscaram ao vê-lo. Ele estava a pentear os seus cabelos longos e muito loiros que batiam uns vinte centímetros abaixo dos ombros.
Tommy acabou se revelando o "ateísta de plantão" do meu curso de Teologia da Fé. Constantemente, ele fazia objecções, fazia troça ou gemia contra a possibilidade de existir um Deus-Pai que nos amasse incondicionalmente.
Convivemos em relativa paz um com o outro por um semestre, embora eu tenha que admitir que às vezes ele era um estorvo nas minhas costas.
Quando, no fim do curso, ele se aproximou para entregar o seu teste final, perguntou-e num tom ligeiramente cínico:
"O senhor acredita que eu possa encontrar Deus algum dia?"
"Não!", respondi com convicção.
"Ah! Eu pensei que este fosse o produto que o senhor estava tentando nos impingir!"
Deixei que ele desse uns cinco passos fora da sala quando gritei para ele:
"Tommy, eu não acredito que você consiga encontrar Deus, mas tenho absoluta certeza de que Ele o encontrará".
Mais tarde u soube que Tommy estava com um cancro terminal. Antes que eu pudesse ir à sua procura, ele veio-me ver. Quando ele entrou no meu escritório, reparei que oseu físico tinha sido devastado pela doença e que os cabelos longos tinham caído todos como resultado da quimioterapia. Mas os seus olhos estavam brilhantes e a sua voz estava firme, pela primeira vez na vida, acredito eu. "Tommy, tenho pensado tanto em você! Ouvi dizer que você estava doente!", disparei.
"Ah, é verdade, estou muito doente. Tenho cancro em ambos os pulmões. É uma questão de semanas agora.""O senhor lembra-se do que me disse na última aula?!"
Acenei que sim e Tommy continuou:
"Quando os médicos removeram um nódulo da minha virilha e me disseram que era um tumor maligno, aí encarei com mais seriedade a procura de Deus. E quando a doença se espalhou pelos meus órgãos vitais, eu comecei, realmente, a dar murros desesperados nas portas de bronze do paraíso. Mas Deus não apareceu. De facto, nada aconteceu. E então, desisti. Um dia, eu acordei e em vez de atirar mais alguns apelos por cima de um muro alto de tijolos atrás de onde Deus poderia ou não estar, eu desisti simplesmente. Eu decidi que de facto não iria me importar... com Deus, com uma vida eterna ou qualquer coisa parecida. E decidi gastar o tempo que me restava fazendo alguma coisa mais proveitosa. Eu pensei no senhor e nas suas aulas e eu me lembrei de outra coisa que o senhor tinha dito: A tristeza mais profunda, essencial, é passar pela vida sem amar. Mas seria quase tão triste passar pela vida e deixar este mundo sem jamais ter dito às pessoas que você amou que você as tinha amado. Então comecei pela pessoa mais difícil: meu Pai. Ele estava lendo o jornal quando me aproximei dele."Pai" ...
"Sim, o quê", perguntou sem baixar o jornal."Pai, eu gostaria de conversar consigo."
"Então converse".
"É um assunto muito importante!"
O jornal desceu alguns centímetros vagarosos. "O que é?"
"Pai, eu te amo. Eu só queria que você soubesse disso."
Sorrindo para mim, Tom disse com uma satisfação evidente, como se ele sentisse uma alegria quente e secreta fluindo dentro dele. "O jornal escorregou para o chão e o meu pai fez duas coisas que eu não me lembro de tê-lo visto fazer jamais. Ele chorou e me abraçou. E conversámos durante toda a noite, embora ele tivesse que ir trabalhar na manhã seguinte.
"Foi tão bom poder me sentir junto do meu pai, ver as suas lágrimas, sentir o seu abraço, ouvi-lo dizer que me amava. Foi mais fácil com a minha mãe e com o meu irmão mais novo. Eles choraram comigo também e nós nos abraçámos e começámos a falar coisas realmente boas uns para os outros. Eu só lamento uma coisa: que eu tivesse esperado tanto tempo para mostrar que amava a minha família".
"O senhor estava certo. Deus me encontrou, mesmo depois de eu ter parado de procurar por Ele."
"Tommy," disse eu quase soluçando, "eu acho que o que você está a dizer é alguma coisa muito mais importante e muito mais universal do que você pode imaginar. Para mim, pelo menos, você está dizendo que a maneira mais certa de se encontrar Deus, não é fazer dEle um bem pessoal, uma solução para os próprios problemas ou um consolo instantâneo em tempos difíceis, mas sim tornando-se disponível para o amor. O apóstolo João disse isto: "Deus é Amor e aquele que vive no amor vive com Deus e Deus vive com ele".
Pedi ao Tom que ele viesse a uma aula minha dar esse seu belo testemunho, mas Deus chamou-O e ele não pôde fazê-lo. Faço-o eu por ele!

sábado, 24 de março de 2012

Ciência converte ateu


O ex-ateu Antony Flew, que faleceu em 2010 aos 87 anos, era conhecido por seu activismo contra a fé. Entre os ateus, era considerado o “Papa dos ateus” e muitos estudiosos e filósofos gostam de ilustrar sua influência comparando-o a Richard Dawkins, o mais famoso ateu da actualidade, dizendo que ele foi no século XX, o que o famoso ateu inglês é hoje para os ateus: um símbolo.
Porém, em 2004, ao abandonar o ateísmo, ele se tornou o maior exemplo dos religiosos que se importam com o debate sobre fé e ciência.
Em 2007, escreveu o livro “Há um Deus”, onde afirmava a sua admiração pelo cristianismo, classificando como a religião que “mais claramente merece ser honrada e respeitada”, ressaltando também a influência do apóstolo Paulo na formação das bases conhecidas do cristianismo hoje, a quem classificava como “intelectual”.
No livro “Deus Existe”, Flew relata em parceria com Roy Abraham Yarghese que sua conversão se deu da forma mais convincente para um ateu: através da ciência. Um grande exemplo costumeiramente usado por filósofos ateus para refutar a teoria da criação, é a teoria do big-bang. Porém, para Flew, após anos de estudo e reflexão, a própria teoria do big bang era a prova do que o livro de Génesis relata.

Conhecer Jesus


Ontem como hoje há um sem-número de pessoas que desejam conhecer Jesus, como aqueles gregos do Evangelho de hoje. Na Europa e nos países de tradição cristã a grande parte das pessoas podem achar que já o conhecem suficientemente, embora isso poucas vezes seja realidade. Há muita gente que o procura apenas por interesse egoísta mas não pratica os seus mandamentos.
Muitos só procuram Jesus para obter a Sua ajuda, quando as coisas estão difíceis. São os que só querem o mel do cristianismo: curas físicas e espirituais, bênçãos materiais.
Jesus menciona muitas vezes o mandamento do amor a Deus, repetindo o que diz a Bíblia, mas dá um ênfase muito grande à obrigação de amarmos o próximo. Basta ler Mateus 25, 31-46, que nos indica como um dia seremos julgados.
Anda um texto na internet, que vale a pena ler e meditar: «Eu acho que a única religião verdadeira é a do Amor. Há muita gente que levanta as mãos para louvar, mas poucos as usam para ajudar o próximo. Há muita gente a apontar o dedo a seu irmão para o acusar, mas não é capaz de lhe dar a mão para o levantar. Muitos querem o perdão de Deus, mas não perdoam a quem os ofende. Muitos estão sempre prontos a receber, mas pouco ou nada a dar. Falam muito de Fé mas o diabo também tem fé e está no inferno, como diz a carta de S. Tiago».
Quando Filipe e André apresentam o pedido dos gregos a Jesus, Ele começa a falar na Sua morte: «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me quiser servir, que Me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo.»
Isto nos dá a entender que Jesus queria que ficasse bem vincado nos seus ouvintes que conhecê-lo é pouco importante, o que importa é segui-lO, mesmo se para isso é preciso desprezar a vida deste mundo.

terça-feira, 6 de março de 2012

Deixaram-nos na miséria


Há uns pares de anos, bateu-me à porta um casal de idosos para desabafar um pouco comigo e contar as suas mágoas. Naturalmente não os vou identificar, pois isso não seria curial da minha parte. Não eram das minhas paróquias mas de um concelho vizinho.
E começaram por me dizer que tinham sido enganados, pois as suas doenças haviam-nos levado a frequentar uma seita dita cristã que há pouco tinha chegado a Portugal e era na altura muito badalada. Afinal – concluiram – as promessas de os curar não foram cumpridas e agora diziam que Deus os não curava por que não tinham fé.
«Veja, senhor padre, disseram-nos que Deus nos curava se déssemos boas ofertas para essa igreja, demos tudo quanto podíamos e agora estamos na miséria e ainda mais doentes».
Ao longo da minha vida de pároco, tive largas dezenas de pessoas com desabafos parecidos. Recorreram a bruxos, a santinhas, a espíritas, etc., mas os seus males só aumentaram.
Um dia aparece-me uma rapariga a dizer que a bruxa – depois de lá ir diversas vezes e cada vez estar pior – lhe disse que só o pároco de certa freguesia (e na altura era eu o padre dessa paróquia) a conseguiria curar. Perguntei-lhe se já tinha ido ao médico. Disse-me que até trabalhava num consultório médico, mas a família e pessoas amigas lhe haviam dito que a sua doença não era curável por médicos. Ela disse-me que por vezes perdia o juízo e até chegou a andar nua na sua aldeia.
Disse-lhe que eu também não tinha capacidade de a curar, mas que, se ela fizesse o que eu lhe iria pedir, tinha a certeza que ficaria curada.
Naturalmente uma pessoa naquelas circunstâncias não me iria dizer que não ou me pediria condições. Garantiu-me que sim, faria tudo o que eu lhe pedisse. E lá foi ao grande especialista de doenças neurológicas e psiquiátricas, o dr. Nunes Vicente (pai), que a curou. Daí a uns tempos dizia-me que estava boa, que nunca mais lhe tinha dado nenhuma crise. Só lhe custava ver as pessoas a olhar para ela como a coitadinha que até andava despida pelas ruas da terra. E a meu conselho foi viver para outro sítio, onde ninguém conhecia o caso.
Se continuasse a não ser devidamente medicada, que seria dela?!

Vendilhões do templo


O episódio do Evangelho que é lido neste 3.º Domingo da Quaresma pode mesmo escandalizar alguns mais pacifistas. Ao chegar ao Templo de Jerusalém e se deparar com a quantidade de vendedores que ali comercializavam mercadorias, Jesus toma um chicote e expulsa os vendedores daquele local sagrado.
Quem tem na sua ideia a imagem de um Jesus pacifista, que não é capaz de levantar a voz contra ninguém e muito menos actuar de alguma maneira contra quem desrespeita o sagrado, irá achar que este episódio está a mais nos evangelhos. Mas quem conheça mesmo a sério o que os evangelistas relataram sobre as palavras e acções de Jesus saberá que Jesus é compassivo com os pobres e os pecadores arrependidos, mas duro para com os hipócritas e pecadores inveterados. Ele chama aos fariseus “sepulcros caiados por fora e cheios de podridão por dentro”, “raça de víboras”, “lobos vestidos de ovelha”, etc..
E noutro passo grita: "Hipócritas! Devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo".
Se Jesus hoje viesse de novo pregar nas nossas terras, decerto seria também bastante duro contra muita gente e até contra muitos dos que se dizem pregadores do Seu evangelho. Há meio ano falei aqui da chamada teologia da prosperidade, com que muitos fundadores de novas seitas exploram e sugam o dinheiro aos pobres. Mas podia falar, e faço-o nos Testemunhos Vivos deste número de “O Amigo do Povo”, dos charlatães que usam e abusam da boa fé de tantos doentes para lhes sugar o pouco dinheiro que têm a troco de benzilhices e exorcismos.
Rezar pelos doentes é uma coisa bem diferente do que enganá-los com falsos exorcismos e benzeduras. A Igreja sempre foi contra isso como podemos ver nos relatórios das Visitações periódicas às paróquias feitas pelos Arcediagos em tempos passados.

quinta-feira, 1 de março de 2012

A esmola nem sempre ajuda


Hoje apresentamos o testemunho de um homem que viveu na rua mais de 20 anos e desde 1991 ajuda os seus ex-colegas a sair desse inferno.
John Bird, é esse o seu nome, é actualmente um homem conhecido e esteve há dias no Porto a falar sobre a sua obra de regeneração das pessoas da rua. O seu esquema é simples como conta:
– Uma pessoa quer ser ajudada. Aparece. Nós treinamo-la para vender uma revista, equipamo-la com um cartão de identidade e destinamos-lhe uma área em que vai vender, por exemplo, 10 exemplares. Depois ela voltará ou não. Com o primeiro dinheiro que fez, pode comprar mais 10 ou mais exemplares a 50 cêntimos cada um, e vender depois cada unidade, por exemplo, a um euro ou como quiser.O dinheiro que apurar a mais dar-lhe-á para comprar alguma comida. E como precisam de sobreviver, vão vendendo cada vez mais revistas. Muitos desistem mas uns 40 por cento vão criando auto-estima, começam a ter cuidado com a higiene. Entram nos lugares públicos, são acarinhados aqui ou ali. E um dia conseguem arranjar um trabalho mais remunerado e passam a viver como pessoas.
Bird diz que dar dinheiro a um “sem abrigo” é prolongar o seu sofrimento e apressar-lhe a morte. É preciso que ele lute pela sua sobrevivência, se não nunca mais sai da rua.
– A esmola não ajuda, mata!
E quem diz isto sabe do que está a falar. Nasceu na Irlanda, numa família pobre e cheia de filhos. Os pais rumaram com os filhos para perto de Londres, para viverem melhor, mas a família acabou por se desmoronar. Irmãos para orfanatos. Ele, John Bird, preferiu a rua. Iniciou assim um percurso complicado, mas com uma particularidade: sempre que ia parar à cadeia vinha de lá mais instruído. Lia, escrevia e aprendeu impressão e outras coisas que lhe permitiram o sucesso com a revista que criou para os “sem abrigo”.
A sua revista vende hoje aproximadamente 250 mil exemplares em todo o Reino Unido. E muitas outras surgiram um pouco por todo o mundo. Vários milhares de pessoas "sem abrigo" têm sido resgatadas desta maneira.